Falar sobre pessoas que um dia conhecemos e com quem convivemos, depois de anos de seu desaparecimento, pode parecer uma tarefa sem maiores problemas, à luz de um raciocínio comum. Porém, não será missão tão fácil, se tivermos diante de nós uma plateia como esta: Tão distinta e distante do tempo em que viveu o personagem! Pode ser que, aqueles pontos considerados importantes para a nossa avaliação, não tenham o mesmo peso, e significado para alguns que aqui estão a nos ouvir; vez que falaremos não só da expressão de atos coletivos, mas, sobretudo, de acontecimentos muito pessoais - captados durante uma convivência, particularmente acontecida, entre o personagem biografado e o narrador de parte da sua trajetória de vida.

Por isso, neste momento queremos rogar a todos, o perdão por possível lapso ou equívoco, acaso acontecidos e expostos ao longo da narrativa, ou fatos que deixarem de ser lembrados e comentados.

Feita essa observação vamos ao contexto:

O escritor espanhol Julio Gutierrez Sesma, em seu trabalho “Glosa a uma carta de Leon Felipe” observa o quanto a Humanidade às vezes é negligente e descuidada com a memória e exaltação de seus vultos. Ele indaga: “Que se sabe na Espanha de Leon Felipe? Apenas nada! Acaso os poetas e alguns intelectuais, e aqueles que têm feito da poesia balsamo para aliviar saudades e tristezas – sempre uma seleta minoria estendem um tanto o doloroso e largo peregrinar deste Zamorano nascido em Tábara em 1884, que um dia decide romper as ataduras que o ligavam a uma sociedade rotineira e repleta de convencionalismos...“

Através deste texto observamos uma situação que é quase uma prática universal, pois a Humanidade parece tratar as questões históricas, com negligência sem medida, de forma vacilante e despreocupada sem conservar o verdadeiro tesouro que representa o produto cultural de cada um dos seus filhos.

Nós, não queremos aqui apontar responsabilidades de quem quer que seja dentro do contexto da sociedade contemporânea e regional. Não pelo silêncio ou mesmo pela indiferença nacional, ao trabalho de um dos nossos maiores e mais significativos vultos literários que é Rubens de Mendonça. Mesmo assim, reconhecemos que neste momento muito mais deveria e deverá ser feito.

Com o motivo de cumprir-se em 2016 o Centenário de nascimento, em território mato-grossense, desse brilhante vulto das letras brasileira e mato-grossense que foi Rubens de Mendonça, decidiu-se entre seus familiares e amigos pela mais profusa manifestação de carinho em comemoração a essa efeméride. É uma tarefa que nos leva a um itinerário de reconhecimento: O redescobrir Rubens e sua obra! Verdadeira prospecção, ao caminho percorrido e delimitado pelo autor de dezenas de livros realizados em 40 anos de trabalho. Não é correto fechar a porta dos espaços históricos culturais, sem antes conhecer cada um dos trabalhos do poeta que também foi historiador: verdadeiro documentarista, das condições geográficas, das incidências históricas, das manifestações populares e oficiais acompanhando sempre o vaivém da atividade cidadã. Mato Grosso haverá de comemorar com dignidade, nos próximos dois anos o centenário de natalício do eminente escritor, que foi ainda destacado membro da Academia Mato-grossense de Letras.

A celebração do centenário de nascimento de Rubens de Mendonça é uma oportunidade que temos para realizar também um balanço do que se fez no momento histórico do processo de evolução e da revolução do desenvolvimento de Mato Grosso. A emoção e o forte orgulho que se manifestava na personalidade do escritor, quando aflorava através de seus escritos, a certeza da experiência paralela de estar relatando para conhecimento de várias gerações o melhor de sua época, no processo de nosso desenvolvimento.

O estilo de Rubens, sempre inovador e direto, contrastava com os demais escritos do seu tempo, pelo uso de uma linguagem simples e comunicativa. Toda a obra tem uma mesma temática, um cenário fixo no Estado que cronologicamente vai entrando na fase moderna, como foi caprichosamente relatado em seus relatos históricos: História da Literatura mato-grossense (1970); História das revoluções em Mato Grosso (1970); História de Mato Grosso (1970); História do Comércio de Mato Grosso (1973); História do Poder Legislativo de Mato Grosso (1974). Tem-se a impressão que para chegar à sua ampla exposição sobre a história dos diversos seguimentos narrados e focalizados, o autor usou de materiais de arquivos, documentos inéditos e testemunhos, de pessoas da época, que culminaram para uma verdadeira fotografia documental de quarenta anos da história contemporânea de Mato Grosso. E, aqui podemos repetir também o que disse Celso Emílio Ferreiro em um de seus escritos: “A Literatura – como todas as obras do espírito – não nasce espontaneamente nem em terreno baldio. Brota por um imperativo de interpretação do mundo e da vida, em um entorno determinado que há de dispor necessariamente de três elementos fundamentais: uma língua própria, uma tradição e um acervo de símbolos”.

Em Rubens de Mendonça, sem dúvida, havia algo mais! Havia em toda a sua obra, como dizem seus biógrafos: “um dom de expressão literária excepcional e uma intuição poética riquíssima”.

 

Retalhos de minha convivência com o escritor

O publicitário Eugênio Carvalho era correspondente da revista Oásis – de Goiânia, quando ainda estávamos lá como seu redator-chefe. Assim que chegamos a Cuiabá fomos visitá-lo e nos tornamos amigo de toda a família. Foi ele quem nos apresentou ao poeta Rubens de Mendonça, que já havia publicado artigos na revista através do Eugênio. Também nos tornamos amigo do Edgar Curvo, dos poetas Agenor Ferreira Leão, Newton Alfredo; da vereadora Maria Nazareth Hann; dos jornalistas Roberto Jacques Brunnini, Archimedes Pereira Lima, Lázaro - e o filho Gabriel Papaziam. Com todos pudemos desfrutar um pouco não só da companhia agradável, mas também do amplo conhecimento que possuíam sobre a cultura regional e a política local. Mas, a amizade, respeito e admiração maior eram muito fortes para com o poeta, historiador e jornalista Rubens de Mendonça.

Roberto Brunnini foi um apaixonado pela família Mendonça. Ele nos ensinou a respeitar o talento dos dois mais dignos representantes da cultura cuiabana e mato-grossense: Estevão (o pai e precursor) e Rubens (o filho e consolidador).

Rubens de Mendonça tinha um porte aristocrático, era funcionário público – trabalhando na Receita Federal, cuja sede ficava ali na Avenida Getúlio Vargas: O centro de todas as mais importantes repartições públicas na capital. Era um homem elegante - sempre trajando terno e gravata, tinha e mantinha um porte fidalgo. Sua estatura mediana, não deixava despercebida a altiva figura do intelectual. Em todas as rodas que frequentava, se destacava entre os demais pela verve absolutamente coerente com o tempo em que vivíamos. Mesmo assim, não expunha qualquer vaidade pessoal – embora muito respeitado. O centro político de Cuiabá era a Praça Alencastro que ficava em frente ao palácio do Governo. Já pela manhã, as pessoas mais representativas da cidade se deslocavam até lá, para um encontro e um bate papo sentadas nos bancos da praça ou formando rodas fechadas, sempre que o assunto ou comentário tivesse que ser exposto com certa reserva. Já pela manhã lá estava ele: bem barbeado, elegante e engravatado trazendo e levando para os demais as primeiras notícias, que eram também as mais importantes do dia. Ele gostava de brincar conosco deixando e mostrando sempre um ar de mistério nas suas narrativas. De quando em vez tirava do bolso do paletó um papelzinho escrito em forma de bilhete e o mostrava dizendo: “ Olha só o que colocaram em meu bolso” – Quase sempre era algo inusitado, fora do comum, que se referia à política local ou de certa forma um absurdo cometido por alguém com alguma expressão cultural ou política.

Com o tempo fomos ganhando a confiança do escritor e passamos a frequentar a sua casa, lá na Rua Barão de Melgaço. Às vezes chegávamos muito animado querendo saber de novidades, mas nem sempre tínhamos a felicidade de conseguir a informação desejada. Ele era cauteloso, habilidoso - embora gentil e prático!

Sempre que o seu editor, também diretor da Rádio Voz D’Oeste, Roberto Jacques Brunnini, voltava de uma viagem trazendo os livros do Rubens de Mendonça – éramos um dos primeiros a recebê-los. Parece que farejávamos a boa nova!

Algum tempo depois fomos trabalhar como editor do jornal Equipe, que pertencia ao empresário João Celestino Cardoso (o João Balão) um dos grandes investidores empresariais de Cuiabá. Nesse período mantivemos um estreito convívio com Rubens de Mendonça que era quem sempre procurávamos para nos inteirar dos fatos e das situações mantidas sob certo sigilo. Por isso o jornal foi muito respeitado, tinha uma editoria política polêmica e bastante crítica. Então, descobrimos ser aquele homem: culto e notável, não apenas um acadêmico, ou um intelectual comum; mas, um pensador atualizado, notável pelo seu poder de informar e trabalhar as ideias contemporâneas com um foco idealista e bastante fundado na cultural regional!

Rubens de Mendonça foi bastante influente em todos os setores da vida e do desenvolvimento de Cuiabá. Tinha um bom trânsito no meio empresarial; gozava de prestigio entre os mestres e professores na Universidade Federal, no rádio (que era na época a mais expressiva forma de propagação dos acontecimentos locais), também colaborava cotidianamente através de opinião, artigos, entrevistas e apoio aos programas culturais. Os grandes beneficiários dessa relação intelectual foram os diretores das rádios Voz D’Oeste (Roberto Jacques Brunnini); Difusora (Aurora Chaves); e Padre Wanir Delfino César (Cultura). O jornal o Estado de Mato Grosso, também abrigou dezenas de artigos e trabalhos desse escritor tão significativo para a literatura mato-grossense.

O governador José Fragelli, admirava o talento de Rubens de Mendonça e fazia empenho pessoal para a edição de suas obras, através do serviço editorial de Roberto Brunnini. Os livros eram impressos em Goiânia – na Gráfica Rio Bonito (Diário da Manhã). Roberto Bruninni tinha que se deslocar de Cuiabá à capital goiana por diversas vezes no mesmo mês, utilizando uma perua Veraneio de sua propriedade. As longas viagens não o desanimavam nunca, pois a cada dia, mais e mais livros chegavam para abastecer os saraus e as tertúlias nas noites cuiabanas. Era um tempo diferente, a cidade tinha uma identidade cultural própria, marcada pela expressão de homens como o próprio Rubens de Mendonça, Archimedes Pereira Lima, Lenine de Campos Póvoas, Newton Alfredo, Gervásio Leite, Bento Machado Lobo, Pe. Firmo, Gabriel e Gastão Müller, João Vieira, Gabriel Novis Neves, Ranulpho Paes de Barros, João Moreira de Barros, Pe. Wanir Delfino César, Clóvis de Mello, Antônio Corrêa da Costa, Paulo Pitaluga Costa e Silva, Emanuel Ribeiro Daubian, Benedito Pedro Dorilêo, Maria Müller, Benedito Santana da Silva Freire, Agenor Ferreira Leão, Luís Philippe Pereira Leite – entre tantos outros.

Escritor incansável, Rubens de Mendonça tem uma produção literária vasta que o distingue como o mais produtivo autor de todos os tempos em Mato Grosso. Além do volume de obras há que considerar a importância da sua contribuição à história, à literatura, ao jornalismo que definiu o que mais importante aconteceu de 1938 até 1978 com um significativo registro da criação e da informação através da literatura em uma produção incansável realizada em quatro décadas. Nesse contexto temos as obras:

Aspecto da Literatura mato-grossense (1938); Garimpo de meu sonho (1939); Poetas Borôros (1942); Cascalhos da Ilusão(1944); Discurso de posse da cadeira nº 9 (1945); Os Mendonças de Matto Grosso (1945); Antologia Borôro – antologia de escritores mato-grossenses (1946); No escafandro da vida (1946); Gabriel Getúlio Monteiro de Mendonça (1949); Álbum comemorativo do 1º Congresso Eucarístico de Cuiabá (1952); Dicionário biográfico mato-grossense (1953); Do por do Sol (1954); Poetas mato-grossenses (1958); A presença de Estevão de Mendonça (1959); História do jornalismo em Mato Grosso (1963); Bilac o poeta da Pátria (1965); A espada que unificou a pátria (Caxias) – (1966); O tigre de Cuiabá (1966); Estória que o povo canta (1967); Ruas de Cuiabá (1969); Sagas e crendices de minha terra (1969); História da Literatura mato-grossense (1970); História das revoluções em Mato Grosso (1970); História de Mato Grosso (1970); História do Comércio de Mato Grosso (1973); História do Poder Legislativo de Mato Grosso (1974); Roteiro histórico e sentimental da vila Real do senhor Bom Jesus de Cuiabá (1975); O humorismo da política de Mato Grosso (1976); Evolução do ensino em Mato Grosso (1977); Igrejas e sobradas de Cuiabá (1978); Sátiras na política de Mato Grosso (1978).

Para encerrar esta nossa apresentação, em homenagem a um dos mais importantes homens da cultura deste Estado, ousamos sugerir a inscrição de seu nome no Panteão entre os maiores de nossa Pátria. E aproveitamos o momento para brindá-lo com a poesia de outra autora que está entre nós trilhando o mesmo caminho das artes literárias. É ela Célia Vieira- autora de CHEIRO DE FIDELIDADE, livro do qual extraímos dois de seus poemas para essa lembrança no centenário de Rubens de Mendonça:

“POETAS DA NOITE”

Deixe-me revelar minhas canções,
Silenciosamente ao mundo.
Sem voz, emudecida,
Poeta da noite velada,
Embalar corações.
Trespassá-los com a seta da alegria
Despertá-los.
Para receber a primeira benção
No romper da manhã.
Enquanto a noite ainda segura o céu
Nas dobras negras de seu corpo,
Deixe que eu cante
Para as estrelas em vigília,
O silêncio dos corações.
Com êxtase, às almas insones.
Acordar as horas,
Sob o brilho das estrelas
E tatear na casa sem luz.
Contemplando o movimento
De espíritos incrédulos, ocultos,
Apenas o silêncio se faz ouvir.
Nos cantos alegres, canção insondável.
E meu canto sacudindo a escuridão,
Revelando minhas canções
Sem voz emudecida eu canto.

E o poema:

SOBREVIVES EM MIM

Tua lembrança, minha agonia,
Por mais que eu tente não pensar,
Ainda sinto teu cheiro
Na sala, no quarto, no ar.
Por mais que eu tente fugir
É inútil,
Tua presença é um sinal
Visível escrito no céu.
Mudo meu rumo
Tentando te esquecer,
Percorro outros caminhos
Mas, tua existência é eternar.
Sobrevive em mim,
Dentro de mim,
Segue comigo, no que penso no que falo,
Até no que ignoro,
Seguindo-me até em sonhos.
Inútil prescindir
Tua presença me acompanha,
Ocultamente, silenciosamente.
Estás sempre comigo
Sobrevivo em você,
Sobrevives em mim.

 

Muito obrigado pela oportunidade de poder ter realizado esse comentário e participado desta homenagem no centenário da maior expressão cultural mato-grossense: RUBENS DE MENDONÇA!

 

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