Boa noite! Aqui estou eu a falar dele, uma vez mais. Agora, meu enfoque será diferente – e, com uma sensação indescritível o tratarei como PAI. Tenham certeza, nessa sua função, ele foi infinitamente maior que, toda sua produção literária e cultural.

Um ser humano espirituoso, humilde e brincalhão, que levava a vida de maneira lúdica e descomplicada. Dono de um bom humor refinado . Tinha o poder de transformar, o fardo pesado em boas gargalhadas. Era possuidor de uma personalidade singular, além de um pseudônimo - Paulo Ambard e um alter ego , que atendia pelo nome de Pantaleão, o santo do seu dia de nascimento – 27/07. Por falar em santo, ele se dizia ateu, e, como, nunca o fora, quando confrontado , se dizia agnóstico. Era muito supersticioso... entrando ou saindo de casa, avançava sempre com o pé direito. Tinha medo de urucubaca, aliada à expressão dita, quando no dia nada dava certo ....”Hoje levantei-me com o pé esquerdo”. Como podemos ver um ateu pitoresco...ou um agnóstico contravertido ...pois, era comum mandar rezar missas pelas almas de Dom Aquino , Dutra e Rondon. E acender velas, todos os domingos nas sepulturas dos seus pais, do Barão de Melgaço, do acadêmico José Barnabé de Mesquita, do amigo e compadre Brunini, de Euricles Mota. Não se esquecendo do Frei Trebaud, da Maí por quem devotava estima, aos seus colegas de trabalho e finalmente, a visita a todos os túmulos dos positivistas . O ateu Rubens de Mendonça carregava a bandeira do Senhor Divino, quando ela saía de sua casa , na tarde do primeiro dia de esmolas! E, esse mesmo agnóstico trazia no seu peito, na sua corrente, as medalhas de Nossa Senhora da Conceição e São Judas Tadeu, seus santos de devoção.

Papai foi um homem de paz, de uma cordialidade marcante, quando solicitado, atendia de forma amiga a todos... foi ele uma criatura essencialmente, pacífica...só ía à luta para os combates literários. Mas pasmem, só andava armado...e seu revólver , graças à Deus, só era usado na noite do dia 31/12, para saldar o Ano Novo.

Tinha uma mania...deixar gravado, diariamente, em sua caderneta, por três vezes, a expressão “Hei de Vencer” . Será o que pretendia com esse ritual? Acharia pouco o que estava produzindo? Não sabemos, apenas suspeitamos.

Amigos foram tantos em quantidade e qualidade que, a mim, é imperioso lembrar de seu conselho : “Mais vale bons e leais amigos do que um baú de tesouros.”

O nosso cotidiano, jamais se livrou de suas críticas didáticas e bem humoradas. Em alguma circunstância vivida que eu reclamava à mamãe que o papai, estava me enrolando, ela, sorria e dizia...você não sabe o que é ser enrolada.... E eu não entendia. Tempos depois encontro este soneto dele para a sua namorada Ivone, a mamãe, datado de 03/07/1937, quando ele tinha, apenas, 22 anos de idade.

Soneto

Enfim terás de casar comigo,
E viver só de sonho e de ventura...
Eu serei sempre o teu amigo,
E tu serás a amada criatura
Eu viverei qual Tasso, o bardo antigo,
Cantando sempre a tua formosura,
E tu Ivone, trarás ao nosso abrigo
O brilho de uma estrela que fulgura...
De beijos passaremos o dia inteiro;
Viveremos de amor, mas sem dinheiro,
Esperando seja lá o que Deus quiser...
E assim, vamos passar a primavera;
Tu farás bolo, eu ficarei a espera,
Fazendo versos, mas sem papel!

Casaram-se,...Mas, num 27 de julho de 1954, exatamente, 17 anos, depois de um longo e desanimador noivado.

E nós papai, sua única filha, seu genro Miguel, suas netas Mônica Regina e Marina, que não tiveram a dádiva de com você conviver ,e seus bisnetos Felipe e Manuela Mendonça de Deus Almeida queremos dividir com vocês amigos, a emoção deste momento em que revivificamos Rubens de Mendonça, como forma de diminuir a saudade que teima em nos dominar.

Com a emoção nos arrebatando e citando como o poeta registrado por Barbosa de Sá nos “Anais do Senado da Câmara de Cuiabá “, velho alfarrábio que conta a história da nossa vida colonial, encerramos, na certeza de que, “Vosso nome será lembrado enquanto em Cuiabá, houver viventes.

Cuiabá, berço de Rubens de Mendonça, abril de 2015.

Foi antes do casamento / Ivone para me pegar / Não parava um só momento / Do meu cachorro beijar.

Guaraná é um remédio/Fortificante colosso/Elixir de longa vida/Do povo de MT.

Mas, traduzo nestas linhas/Pelo presente obrigado/Mas, juro que essas bolinhas/Já vi no ano passado.

Falta água, falta luz/MT hj é maloca/Por piedade Jesus/Manda de volta o Pedroca.

Meu amigo Zé Luiz/ Ando triste e jururu.../Minha casa não tem água/ Nem para lavar o rosto...

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