O conhecimento humano organizado em ciência pelos gregos ainda busca na História os caminhos da Humanidade. O poeta português Fernando António Nogueira Pessoa nos ensinou mais tarde que “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” e o físico alemão Albert Einstein complementou dizendo que “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”. Estamos na era da Comunicação Social, quando o jornalista escreve a História Contemporânea, falada, impressa, documental ou digital, do cinema à banda larga da Internet. É a continuidade do processo de evolução da narrativa histórica tradicional, seja ela oral ou escrita, incluído sons e imagens estáticas ou em movimento.

A História é permanente e o tempo é o seu cenário cronológico. O jornalista é o historiador contemporâneo que relata, registra e comenta os acontecimentos da sua época enriquecendo o legado da História. A Comunicação Social é a História viva que reproduz velozmente a informação no seu momento através de recursos tecnológicos ilimitados e em contínua atualização, preservando o conhecimento humano para o romper dos séculos.

O autor desta pesquisa é um jornalista que escreve também História, operando no processo emissor, suporte e receptor do jornalismo atual, usando texto livre para facilitar o entendimento do conteúdo. Nos antigos jornais mato-grossenses existem informações que felizmente foram salvas do esquecimento. Escrever sobre a História, reconheço, exige mais do autor, mas esta é uma homenagem que dedico ao jornalista e historiador Rubens de Mendonça, nos caminhos da reportagem diária registrando a história ao longo dos tempos.

Cheguei a Corumbá em 09/02/1959, com 17 anos, e me matriculei no Colégio Estadual Maria Leite. Em março daquele ano fundei o Centro dos Estudantes Secundários de Corumbá. Em junho fui convidado pelo líder estudantil Pedro Alves Ferreira para participar do Primeiro Congresso Estadual de Estudantes Secundários de Mato Grosso em Cuiabá.

Na visita dos estudantes mato-grossenses ao historiador e jornalista Rubens de Mendonça, disse a ele que escrevo em jornais desde os 15 anos, no Ideal e na Voz da Mocidade, em Crato, no Ceará, onde nasci, e então em O Momento, de Corumbá, onde residia com meus pais. De imediato recebi o seu apoio por ser um jornalista jovem demais. Eleito para ser primeiro vice-presidente, assumi a presidência da União Mato-grossense dos Estudantes Secundários dias depois e defini minha fixação em Cuiabá. Fui então contratado para correspondente da Folha da Tarde de Corumbá em Cuiabá pelo seu diretor, jornalista Pedro Vale.

Em 1960 prestei o serviço militar no 16º Batalhão de Caçadores (44º Batalhão de Infantaria Motorizada) e concluí o Curso Científico no Colégio Estadual de Mato Grosso. Em 1961 consegui o meu primeiro emprego de carteira assinada no jornal O Estado de Mato Grosso, por indicação do “Sêo” Rubens ao diretor Arídio Orestes Marinho. Foi o começo de uma jornada de 25 anos, chegando a diretor em poucos meses. No mesmo ano ingressei na Faculdade Federal de Direito de Mato Grosso, sendo o mais jovem da minha turma, com somente 20 anos. Ainda em 1961 ele me indicou para correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Cuiabá, função que exerci durante onze anos.

Em 1962 eu e Mindinha nos casamos e “Sêo” Rubens e Da. Ivone foram meus padrinhos no religioso e no civil, pois meus pais, residentes em Corumbá, não chegaram a Cuiabá na data do casamento devido ao atraso do avião, o que era comum na época. Do ilustre casal cuiabano sempre recebi carinhosa atenção e por isto eles terão a minha eterna gratidão e merecido reconhecimento.

Em 27/08/1969 foi fundado o Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso para defender os interesses da categoria, em congresso estadual convocado pelo jornalista Pedro Rocha Jucá e realizado no sexto andar do Palácio Alencastro. Para cumprir a legislação da época o primeiro nome foi Associação Profissional dos Empregados em Empresas Jornalísticas de Mato Grosso e depois, com a entrega da carta sindical, Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Mato Grosso. Fundei o sindicato com apoio do jornalista Rubens de Mendonça, primeiro secretário da Associação de Imprensa Mato-grossense, entidade não sindical filiada à Associação Brasileira de Imprensa, ABI.

Sua primeira diretoria eleita na fase inicial era composta pelos jornalistas Pedro Rocha Jucá, presidente, até 1978; José Eduardo do Espírito Santo, primeiro-secretário; Herbert de Almeida, segundo-secretário, que substituiu o titular; e Benedito Alves de Holanda, primeiro-tesoureiro. No Conselho Fiscal: Roland Gerhart Harkensee (Rolando Guerra), Edipson Morbeck e Augusto Gamba.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Mato Grosso funcionou por diversos anos na redação do jornal O Estado de Mato Grosso. A sua carta constitutiva foi aprovada em 07/06/1972 e possibilitou sua filiação à Federação Nacional dos Jornalistas em 10/07/1972. Nesse mesmo ano, foi realizado o Primeiro Encontro de Comunicação de Ética Profissional, quando se combateu a violência contra os jornalistas profissionais em Mato Grosso.

Após o seu reconhecimento oficial pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, a primeira diretoria eleita em 22/09/1972 e empossada em 12/10/1972, ficou constituída por Pedro Rocha Jucá, presidente, reeleito; Roberto Jacques Brunini, vice-presidente; Mauro Cid Nunes da Cunha, primeiro-secretário; Emanuel Ribeiro Daubian, segundo-secretário; Antonieta Riez Coelho, primeira tesoureira; e Benedito Alves de Holanda, segundo-tesoureiro. O seu Conselho Fiscal era formado por Djalma Valadares de Figueiredo, Edipsom Morbeck de Matos e Adelino Messias de Matos Praeiro. Para seus representantes junto à Federação Nacional de Jornalistas foram eleitos Pedro Rocha Jucá e Rubens de Mendonça, que foi o primeiro representante dos jornalistas mato-grossenses na FENAJ, sendo suplentes Paulo Zaviasky e Afrânio Borba de Moura.

“Sêo Rubens” me apoiou na criação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso desde o início e participou dos congressos em Campo Grande, Dourados, Aquidauana e Corumbá, Goiânia, Fortaleza, Salvador e São Paulo. A ele devo também o meu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, em 25/08/1973, e na Cadeira n.º 22 da Academia Mato-Grossense de Letras, onde me recepcionou em 07/09/1981. Foi a única vez que o presidente da AML recebeu e deu posse a novo acadêmico em uma solenidade.

No “Dicionário Biográfico Mato-grossense”, edição de 1971, nos meus 30 anos, ele incluiu o seguinte verbete: “JUCÁ Pedro Rocha – Nasceu em Crato, CE, a 12 de maio de 1941. Em 1959 iniciou a sua vida profissional na imprensa trabalhando no jornal O Momento, de Corumbá, e posteriormente na “Folha da Tarde, da mesma cidade. Veio para Cuiabá e ingressou no jornal O Estado de Mato Grosso, onde ainda hoje exerce as funções de Redator-Chefe. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Cuiabá. É professor de Geografia do Colégio Estadual “José Barnabé de Mesquita”. Correspondente do jornal O Estado de São Paulo e da revista Visão. Graças a sua tenacidade fez realizar dois congressos de Jornalistas no Estado, em Cuiabá, em 1969, e o segundo em Campo Grande, MT, em 1970. Fundou a “JORNAMAT” (Associação Profissional dos Empregados em Empresas Jornalísticas de Mato Grosso), sociedade da qual é seu presidente desde a fundação. Jucá modernizou O Estado de Mato Grosso dotando-o de clicheria e outros melhoramentos”.

Com seu artigo “Rubens de Mendonça e Cuiabá”, publicado em 13/04/2014 no Diário de Cuiabá, o professor Benedito Pedro Dorileo, ex reitor da Universidade Federal de Mato Grosso, assim analisou o estilo plural do jornalista Rubens de Mendonça: “A par de obras das histórias mato-grossenses e centro oestinas, outras de poesias e mais inéditas, somando mais de quarenta, talhou o rústico por necessidade. Então, foi entalhador, cinzelador, modelador e lapidário da história e da literatura”.

O professor Benedito Pedro Dorileo concluiu: “Se trabalhou os veios históricos, operou o buril delicado da poesia. Soube magistralmente que a poesia pode ser útil indiretamente, porém a utilidade não é o seu fim certeiro, a sua intenção é deleitar. Rubens não foi um fiel rimador escolástico ou copista servil, mas a sua alma rompeu os muros do pensamento e voou aos paramos do astro-rei, quando glorificou Dom Pôr do Sol, que vale um livro”.

O historiador Rubens de Mendonça faleceu em 03/04/1983, na Cuiabá que ele tanto amou e nasceu em 27/07/1915. É o autor mato-grossense com maior número de livros, com destaque para “História de Mato Grosso”, teve quatro edições, fato inédito até hoje na Historiografia regional. Ele publicou diversos clássicos como “Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá”, “Dicionário Biográfico Mato-grossense”, “Ruas de Cuiabá”, “História da Literatura Mato-grossense”, “História das Revoluções em Mato Grosso”, entre diversos outros.

Participo das comemorações do seu centenário, reverenciando a sua memória com muita saudade.

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